quarta-feira, outubro 17, 2007

Uma boa ideia para Portalegre

in correio da manhã

Imaginemos uma septuagenária a viver sozinha numa casa em claro processo de degradação, no centro da cidade do Porto. Imaginemos também que a casa é totalmente recuperada e a senhora passa a usufruir da companhia de outras duas senhoras que se encontravam em situação semelhante.
Deixam de estar sós, passam a viver em excelentes condições de habitabilidade e, para além do espaço, partilham também as despesas, tornando a vida muito menos onerosa.


A ideia não é nova, mas, no nosso país, só está a ser aplicada em Braga, através da empresa municipalizada Braghabit. E passa por pôr as pessoas sós, por norma em situação de viuvez, a viver em conjunto, grupos de três ou quatro, numa casa devidamente adaptada para o efeito. São as chamadas residências partilhadas, em que os moradores têm quarto próprio, com casa de banho, e coabitam nos restantes espaços, como a sala e a cozinha.

Os arquitectos Paulo Moreira, Rodrigo da Costa Lima e Amélia Brandão Costa estão a estudar a forma de aplicar este conceito na cidade do Porto, tendo por objectivo o combate à solidão das pessoas idosas e a recuperação urbana, já que, aqui, pretendem actuar preferencialmente nas casas antigas e devolutas das zonas históricas da cidade.

“Trata-se de aliar a riqueza humana à riqueza urbana”, diz o arquitecto Paulo Moreira, realçando a intenção de trabalhar “preferencialmente” o chamado Porto antigo.

“Os números devem fazer doer consciências: há, só no Porto, cerca de dez mil casas devolutas, muitas delas em total degradação. Isto deve merecer a atenção de todos e nós consideramos que prestaremos um bom serviço se abrirmos caminho à implementação do conceito das residências partilhadas. Teremos ajudado a combater a solidão dos idosos e a promover a recuperação do tecido urbano”, disse Rodrigo da Costa Lima.

Para já, e por solicitação da instituição de solidariedade FILOS, os arquitectos estão a fazer um trabalho de estudo, prospecção e levantamento, no sentido de apurar que caminhos deve trilhar a aplicação de uma ideia destas.

“Estamos a localizar casas, de preferência rés-do-chão ou então que tenham capacidade de colocação de elevador, e que tenham nas suas proximidades equipamentos de apoio, nomeadamente ao nível do apoio domiciliário e da assistência médica. E a verdade é que não faltam casos”, explica a arquitecta Amélia Brandão Costa, sublinhando que “o ideal é actuar em casas de pessoas que vivam sós”.

‘Combater os vazios humanos, utilizando os vazios urbanos’, é o lema destes arquitectos, mais apologistas da recuperação do que da nova construção.

A chamada “habitação de interesse social”, que consta do rol de apoios do Instituto Nacional de Habitação, é uma das vertentes a explorar, no âmbito da aplicação deste conceito das residências partilhadas.

Apesar de ainda estar em fase de estudo, o projecto, que hoje vai ser dado a conhecer no debate ‘Compromisso com a Inclusão’, pode vir a ser aplicado, na prática, já a partir do próximo ano.

O padre José Maia, director da FILOS, quer ver se, ainda esta década, avança com obras nas primeiras “quatro ou cinco casas” destinadas a ser residências partilhadas.